Ao longo destes anos, reparei que há um género de filme que me agrada muito, mas que não sei categorizar. Tudo começou quando, numa aula de Filosofia, a minha professora nos pôr a ver o Stealing Beauty, de que vou falar mais à frente. São filmes que a internet categorizou como no plot, just vibes e que eu baptizei de filmes paisagem.
Estes filmes não têm propriamente um enredo claro e específico, é só mais a vida a acontecer. A sua beleza encontra-se, sobretudo, na subtileza dos diálogos e nas emoções vividas pelas personagens. Para mim, os filmes paisagem têm de me dar a sensação de que estou de férias, ou de que tenho uma vida boémia. Por norma, são filmes que se passam no Verão, num destino idílico (daí o “paisagem”), tendo por vezes um toquezinho coming of age de alguma personagem. Bónus se tiverem cenas sexy entre actores muito atraentes (sim… desculpem lá).
Então aqui vos deixo umas boas sugestões para as noites de Verão que passamos em casa porque, no dia seguinte, infelizmente, temos de ir trabalhar. Tenho filmes mais hollywoodescos e mais independentes, mais leves e mais profundos e, devo-vos avisar de antemão, filmes que incluem no elenco ou na equipa técnica pessoas que… estão mais ou menos canceladas. Pronto, avisei!
Stealing Beauty (1996)
Tal como já disse acima, eu vi este filme numa aula de Filosofia e fiquei OBCECADA. Cheguei a casa e fui sacá-lo só para o ver outra vez. Foi um filme que mexeu muito comigo, tanto que, acreditem ou não, só o revi esta semana. Acho que senti tanto o filme dentro de mim que foi como se não o precisasse de rever, porque o entranhei de imediato no meu ser. Felizmente, voltei a dar play.
Neste filme, a personagem da Liv Tyler viaja até Itália, após a morte da mãe, para tentar descobrir mais sobre as suas raízes. É um filme lindíssimo, tem a Liv Tyler a escrever de forma profunda no diário (hello!!!!), tem paisagens italianas, tem cigarros exóticos, uma banda sonora impecável, eu sei lá, que filme perfeito. Não só é fantástico acompanhar a jornada de crescimento da Lucy (Liv Tyler), como também acompanhamos a evolução de outras personagens secundárias. Não querendo dar spoiler, mas marcou-me, por exemplo, numa conversa, uma das personagens dizer que estava farta de estar ali, no sítio que escolhera para viver, e que queria voltar para casa, para a Irlanda. Será que podemos fazer a nossa casa noutro sítio, ou há um chamamento ancestral que nos puxa para onde nascemos? Enfim. Nesta revisão, acabei o filme completamente cheia de sentimentos e de lágrimas nos olhos.
Deixo o trailer mas aviso já que não lhe faz jus. Vejam este filme, é absolutamente mágico!
Vi no Stremio.
Une Fille Facile (2019)
Aviso: menção de pessoa “cancelada”.
Este é daqueles filmes que eu vi só porque tinha o Nuno Lopes no enredo e, pelo trailer, me pareceu “paisagem”. Conta a história de uma adolescente que fica deslumbrada com a vida boémia da prima mais velha que a visita de férias. Vamos acompanhando as aventuras das duas, com a teen fascinada pela prima, mas alienada do que realmente se passa ali, entre paisagens fantásticas e cenas hot com o ex-querido actor português. O filme passa-se em Cannes, no Verão (obviamente), que é uma terra lindíssima e eu nem fazia ideia. Tem ainda um toque de esquerda-caviar que eu adoro. Não é nenhuma obra-prima do cinema, é mesmo um filme que serve para desligar o cérebro e lavar as vistas.
Penso que este filme andava pelo catálogo da Netflix, mas não consigo confirmar. Vi no Stremio, como de costume.
La Virgen de Agosto (2020)
Encontrei este título por acaso, fui ver e gostei. Conta a história de Eva, uma mulher nos seus 30s, que decide ficar em Madrid, em Agosto, em vez de viajar para fora. Tendo em conta que também já vou a caminho dos 30, gosto cada vez mais de ver filmes sobre perdidos na vida nesta idade. Os coming of age teen já começam a ficar distantes para mim. Gostei muito deste filme, qualquer pessoa que já ficou na cidade grande em época de férias vai-se identificar com aquela espécie de solidão, de ver a cidade "vazia" mas tê-la só para nós. Gostei, acaba por ser uma romantização do Verão citadino para quem não pode ir viajar.
Malta, eu tento procurar mas não há hipótese… vi no Stremio, muito provavelmente.
Leviano (2017)
Pumbas, agora levam aqui com uma recomendação de Cinema Português, que de vez em quando nos brinda com uns bons filmes just vibes. O Leviano diz o que é no título: um filme para quando apetece ver gente gira sem grande esforço. Acompanha a história de três betas cuja mãe desaparece e que tentam ir à procura dela. Tem sol Algarvio, casas fabulosas, praia, o José Fidalgo pré-rinoplastia, cenas picantes, mais um roll de hotties portugueses despidos, enfim!! Além disso, tenho um fascínio pelo estilo de vida beto, por isso tinha mesmo de ver este filme.
Vi-o quando esteve no cinema, depois de ter tido um dia mau no trabalho, e foi uma maravilha para me distrair e passar um bom bocado. Acho que está na HBO, pelo menos esteve em tempos.
A Bigger Splash (2015)
Este filme é um remake de um clássico chamado The Swimming Pool (1969), mas só descobri isso depois. A Bigger Splash conta a história de uma estrela rock que está de férias em Itália (claro lol) com o seu parceiro, e lá encontram um ex dela. A partir daqui, a história desenrola com algumas peripécias. Tem paisagem, tem vibes, tem um plot twist de fazer cair o queixo lá pelo meio. Gostei muito, também.
Tal como vos disse, é um remake do outro filme, que também já vi (fiquei muito confusa quando o grosso do enredo era igual e depois é que li que tinha sido feito uma adaptação recente). O clássico é igualmente bonito e muito sexy, mas talvez por ter visto o moderno primeiro, acabei por ficar mais agarrada a esta versão. Além disso, adorei porque tem a Tilda Swinton e, aparentemente, a Dakota Johnson que eu estava até à escrita deste parágrafo convencida de que era a Lily-Rose Depp. (Eu juro, sou a pior pessoa para perceber que actores são quem……)
…stremio…
Summer Lovers (1982)
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2F2eca8de0-0af4-4dad-9f92-826b42cab4a2_1237x1500.jpeg)
Vi este filme após mo terem recomendado quando uma vez pedi sugestões de filmes sexy. De facto, é um filme muito sexy. Conta a história de Michael e Cathy, um jovem casal norte-americano que vai de férias à Grécia. Aí, conhecem Lina, uma arqueóloga local, que vai agitar as dinâmicas do casal. Mais um fantástico filme paisagem: cenas lindíssimas nas praias gregas, sensação de férias inigualável, e muita gente a praticar nudismo, fica já o aviso.
Noutro tipo de análise, este filme mostrou-me que, aparentemente, era normal que batalhões de norte-americanos invadissem as ilhas gregas para passar um mês (!!!) de férias. Ainda no pré-euro, a Grécia era tida como um destino “barato”, em que arrendar uma casa de férias com vista para o mar era uma pechincha. Enfim, deu-me só aquele sentimento de solidariedade para com outro povo sul-europeu. (E, admito, um bocadinho de inveja por não viver num tempo em que posso ir um mês de férias para a Grécia.) (Eu sei que se vivesse naquele tempo, em condições equiparadas às que tenho hoje, não podia na mesma.)
*suspiro* Vi no Stremio.
French Kiss (1995)
Passei muito tempo à procura deste filme porque, uma vez não sei quando, ele passou na televisão e encantou-me a cena da mini-prova de vinho. Curiosamente, encontrei-o na semana passada numa lista de filmes deste género. Portanto, posts como este que vos escrevo são muito importantes!!! Adiante.
French Kiss conta a história de Kate que, inconformada por ver o seu noivado acabado por telefone, decide contrariar a sua fobia a aviões e vai ter com o ex a Paris, disposta a conquistá-lo de volta. Na viagem, conhece Luc, um francês muito carismático que acaba por acompanhá-la nesta aventura louca. É um filme divertido, bem-disposto, que se passa entre Paris e Cannes, e nos ensina que não vale a pena correr atrás de um amor perdido. Que outras oportunidades surgem quando menos esperamos.
Uma comédia romântica clássica e muito, muito bem feita, quando ainda havia gente em Hollywood que sabia escrever argumentos de jeito. Talvez o meu filme mais family friendly desta lista toda, podem dar play na televisão da sala num domingo à tarde à vontade.
Mais um no sítio do costume. Stremio.
Le Rayon Vert (1986)
O Verão passado, influenciada por umas webamizades, comecei a descobrir a cinematografia de Éric Rohmer. Já vi vários filmes deste realizador, mas decidi escolher o Raio Verde para esta lista, porque ver este filme foi como ver-me a mim e, de certa forma, a minha vida.
Le Rayon Vert acompanha a história de Delphine que, a poucos dias de ir de férias, vê que a sua companhia cancelou os planos. Aí, ela fica perdida, pois continua a querer ir viajar, mas não tem quem a acompanhe. Leia-se, não tem namorado. Ao longo do filme, vemos Delphine a ir de destino em destino, a tentar conhecer pessoas e a aturar muitos conselhos bem-intencionados mas chatos e vazios para quem tem azar ao amor. Adorei a forma como o filme captou o sentimento da solidão da amiga solteira e a sensação de que, para termos companhia, a solução é intrometermo-nos na intimidade familiar alheia, que nos faz sentir como uma estranha indesejada.
Enquanto pessoa que, à semelhança da Delphine, já desperdiçou muito tempo da sua vida obcecada com alguém que vive do outro lado do telefone, este filme surge como um aconchego. Acontece a todos. Acontece tanto que fizeram um filme sobre isto que, por sua vez, é inspirado num livro do Júlio Verne (que ainda não li). No final, o melhor é aceitar que não precisamos da companhia de quem não nos quer acompanhar e, em vez de ficarmos quietos à espera, irmos viver.
Está no Filmin.
Conheces um filme perfeito para acrescentar a esta lista? Por favor diz-me já num comentário, porque adoro descobrir novos ✨filmes paisagem✨.
Espero que tenham gostado e ficado com curiosidade para ver algum dos filmes. Já tinha começado este texto há uns anos, houve recomendações que deixei de fora e outras que acrescentei. Decidi que era altura de o escrever de vez, porque esta semana revi o Stealing Beauty e vi também o French Kiss. Estou empenhada numa espécie de projecto delulu “O Meu Verão Bué Fixe”, para me manter à tona e não pensar nas desgraças da vida, e rever uns filmes bonitos de verão faz parte. Mais textos sairão sobre esta temática.
Tal como tinha dito no texto anterior, quis até fazer um moodboard sobre isto no meu Pinterest. Assim, o meu álbum idyllic summer inaugurou-me o Verão. São estas as vibes que quero para o meu Verão e para as férias. Se quiserem, podem ir lá espreitar.
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