
Deve ser a primeira vez, num ano de substack, em que me sento para escrever a Crónica e não tenho tema. Nem um vislumbre de algo que me apeteça falar, nem reviews de nada, enfim, cheguei aqui blank. E isto aconteceu porque, como tinha partilhado anteriormente, na sexta-feira, dia 31 de Janeiro, tinha o exame para obter a minha certificação do curso de Comercialização de Crédito Hipotecário. Então, naturalmente, estava há semana e meia a marrar a matéria para me preparar para a prova, sem espaço mental para mais nada.
Passei! 🥳
Ficou despachado, já está, só errei duas perguntas e já posso trabalhar com intermediação de crédito hipotecário.
Em termos de objectivos cumpridos e finalizados, este já entra para a lista como uma grande Conquista de 2025. E isto vem ao acaso porque, em terapia, abordou-se o facto de eu sentir que, olhando para trás, não tive conquistas nenhumas. Claro, é mentira, tal como a minha psicóloga me conseguiu fazer notar. Ainda assim, porque é que não sinto as coisas “boas” que acontecem como conquistas? Ou, mesmo ficando feliz com alguns apontamentos, não os entendo como conquistas?
A verdade é que, ao longo dos 20s, tive coisas a acontecer na vida que se podem considerar conquistas: inscrevi-me numa pós-graduação de Marketing Digital e paguei-a sozinha; comprei o meu primeiro (e único, por enquanto) iPhone sozinha. Tirei a carta. Lembro-me de quando comecei a remodelar algumas mobílias do quarto. Mudei as janelas antigas para umas de vidro duplo oscilobatentes. Comprei um computador novo. Fiz duas viagens ao estrangeiro, as duas pagas por mim. Praticamente aprendi uma língua estrangeira sozinha. Enfim, entre tantas outras coisas maiores, coisas menores, mas coisas que aconteceram.
Por que é que, olhando para trás, tudo me parece tão triste? E tão pouco marcante? Penso que se deve à minha tendência de estar sempre em fuga, a tentar chegar ao próximo passo, para fugir do presente em que me encontro.
Há dias andou viral mais um tweet pseudo-cliché que dizia algo do género, eu nunca fiquei contente com nenhuma conquista minha, apenas aliviada. Percebo perfeitamente. Todos os trabalhos novos para onde era contratada, nenhum foi uma conquista, eram todos uma fuga à situação anterior. Terminar a faculdade não foi uma conquista, foi um alívio porque passei no último exame em Época Especial, quando estava em pânico de ter de ficar um ano a mais para acabar só uma cadeira. Os dois anos em que fiquei desempregada, definitivamente, não foram uma conquista: apesar de ter sido o rebentar do meu burnout, olho para trás e ainda penso, ok, estavas com burnout, mas se calhar devias ter arranjado uns trabalhinhos para ires fazendo alguma coisa… - meu Deus, o que é isto?!
Felizmente, alguma coisa começou a mudar para mim depois desse período mais negro. O trabalho que arranjei e me permitiu sair do buraco, ter uma rotina, ganhar um ordenado e fazer poupanças foi uma conquista. Eu ter mostrado resiliência e maturidade para lidar com os atritos foi uma conquista. Ter-me chegado à frente para trocar de funções e deixar de trabalhar ao sábado foi uma conquista. Passar no exame, na sexta-feira, foi uma Conquista!
Quando revi as perguntas, antes de chamar o supervisor para submeter o teste, tinha quase a certeza de ter respondido bem a todas, excepto a duas. O supervisor veio ao pé de mim, fiz o clique final para submeter a prova e ouço: muitos parabéns! Passou com 92%, só falhou duas! E eu: ah! Que bom, ainda bem! E o senhor pergunta-me se eu não esperava, se estava nervosa? Confessei que sim, estava um bocadinho, mas felizmente correu tudo bem. Teve um óptimo resultado, parabéns! Obrigada, bom fim-de-semana.
Subi as escadas e ainda fui ao WC. Mantive o telemóvel em modo voo, resistindo ao impulso de ir já a correr partilhar a notícia. Queria saborear a minha conquista um bocadinho sozinha. Já na rua, enquanto esperava o autocarro de volta, liguei à minha mãe e senti-me emocionada enquanto o telefone estava a chamar. Caramba, consegui. Depois, fui avisando as restantes pessoas da minha vida.
Soube-me muito, muito bem ter passado no teste porque eu dediquei-me MESMO àquilo. Passei dias a fio a marrar os conteúdos dos módulos. No fim-de-semana passado tinha trazido os materiais para estudar em casa. Na véspera do exame, voltei a trazer TPC porque não consegui acabar a revisão no trabalho. Fui fazendo as tarefas que surgiam a despachar porque queria estar dedicada ao estudo. A caixa de e-mail ficou um caos. A pasta das Transferências ficou um caos. Pus tudo em pausa até ao exame. Eu merecia passar, caraças. E passei! E, mais do que aliviada, fiquei genuinamente feliz e contente por mim e por esta minha conquista. 🫶
A própria necessidade de conquistas é mais sintomática do mundo onde vivemos do que de nós mesmos. Partilho dessa angústia de sentir que não se conquistou nada (erradamente, o meu terapeuta também mo diz). Mas logo nas primeiras linhas do teu texto escreves que estás há quase um ano a escrever crónicas. Se isso não é uma conquista, não sei o que será. Parabéns pela conclusão da tua formação!
"E isto vem ao acaso porque, em terapia, abordou-se o facto de eu sentir que, olhando para trás, não tive conquistas nenhumas. Claro, é mentira, tal como a minha psicóloga me conseguiu fazer notar." — Lembro-me de listar as minhas conquistas de 2024, numa das minhas sessões de terapia, movida pelas mesmas emoções do que tu. Para mim, parece que tudo está sempre caótico, que não tenho mão do que se passa na minha vida e que, por consequência, não tenho motivos para celebrar. Nessa sessão, cheguei ao final com a sensação de que deveria, nem que por 5 minutos diários, trabalhar a consciência e a confiança de que me vou superando, mesmo quando acredito que não. Ela fez-me ver que o processo até ao destino é tão importante quanto levantar o grande troféu. Além do mais, a psicóloga também convidou-me a ter mais compaixão por mim, algo que vou tentando para combater a síndrome do impostor. Há dias em que flui maravilhosamente, outros em que custa mais. Não obstante, vai-se fazendo.
Fico mesmo feliz que tenhas conquistado um ótimo resultado no exame, aproximando-te de um objetivo que me parece ser MUITO importante para ti. Que venham mais bonitas conquistas.❣️